26/08/2006

VITELA SÓ ENSOPADA

Nandinho só teve tempo de empurrar Florinda, descolar as costas do barranco e se embrenhar no matagal puxando as
calças pra riba. Corria qui nem curisco nas noites de temporal,
ouvindo cada vez mais longe os berros do Coronë Juvêncio e do
Colt cavalinho.
- Vorta aqui seu “fio duma égua!” Pou, Pou, Pou...
_Ah! Mô Deusinho mi acódi, mesmo qui eu num mereça, a curpa é da Florinda, que me faz perder a cabeça.

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Coroné Juvêncio entro na venda di Amâncio, batendo forte os carcanhar, tinindo as esporas de ouro polidas. No
balcão, deitô cum força a chibata trançada no couro. Puxo de
lado o paletó, deixando a mostra o cabo de madrepérola do
trabuco, pidiu uma talagada e foi logo assuntando.
- Cês sabem do paradero, daquele cabra rampero
di nome Nandinho cartero ?
Todo mundo se entreolhando, côa pinga descendo engasgando
Côas caras de besta cismando, o que possa ter acunticido.
Que havera feito Nandinho, pro coroné ta tão imputicido.

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Zé Bento e Quincas, como faziam toda à tardinha, foram
pescar no grotão, pra modi matar o tempo e uns tambaús.
Dirrepente di traz dum arbusto, saindo com cara di susto
Justo Nandinho cartero.
- Cês tão suzinhos? Perguntou meio cabrero.
-Tamo só nois, nem os peixe aparecero!
-Ah! Inda bem!
_Nandinho diz uma cousa, que qui tu ando aprontando pro Coroné ta nus cascos, por ai te percurando?
-É tudo curpa da Florinda, aquela oferecida, cum aquele olharzinho sonso, cagô cum a minha vida.
-E agora Nandinho? Perguntou Quincas cum rizinho safado.
-Sei não cumpadi, só sei qui daqui pra diante, cumê vitela...
... só ensopadinha cum legumes !!


Ricco Paes