26/08/2006

PESCA COM PEDRINHAS

Juca e Zé Bento, já estavam pescando pra mais de um par horas.
_ Hoje ta bão, ta não Zé? Assunta Juca enquanto espeta outra minhoca no anzol.
_ Ta bão dimais!
_ Oi, fisguei ôtro! Diz Juca que mal acabara de mergulhar a minhoca.
Mais acima do barranco, Honorato, o cabra mais preguiçoso da vila, também pescava. Recostado num tronco de jaqueira, com os pés pendurados no barranco e o chapéu arriado sobre a testa. Vez em quando atirava alguma coisa na água.
Juca olhando de longe, não entendia nada.
_ O Zé!
_ Fala!
_ Já pegou quantu?
_ Pra mais de dúzia... I tu?
_ Eu tumên!...Cume qui podi?
_ Ué, podi pruque tá bão ora!
_ Ta bão só pra nóis?
_ Só pra nóis pruque?
_ To oiando o Norato, pra mais di hora, e num vi ele pega nada. Só fica jugando uns treco na água.
_ Jugando u que?
_ Sei lá, num da pra vê!
_ Vamu lá?
_ Vamu!
Juntaro as traia toda, guardaro os peixes, pusero os caniço no ombro. E foram ao encontro de Norato. Chegaram no justo momento em que ele atirava outro treco na água. Depois voltou a mesma posição em que já estava há horas. Recostado na jaqueira, com a aba do chapéu arriada sobre a testa, um fiapo de paia no canto dos beiços, e um montinho de pedrinhas redondas ao alcance da mão.
_ Tarde Norato! Cumprimenta Juca.
_ Tarde! Responde Norato sem se mover.
_ Tudo bão?
_ Tudo!
_ E a pescaria?
_ Ta boa!
_ Ué, ta boa comu?
_ Tando!
Juca olha Zé Bento que da de ombros.
_ Norato, exprica uma cousa. Eu e Zé Bento chegamo dispois di ocê, pescamo peixe de da cum pau. Tamo inté cansado di tanto que iscamo e fisgamo. Num vi ocê tira essa titica di anzór da água nem uma vez siqué. Só vi ocê joganu essas pedrinha nu rio. Intão cume qui a pesca podi ta boa?
Honorato empurrou a aba do chapéu pra riba da testa, olhou Juca com ar contrariado.
_ Eu exprico cumpadi. Eu tava meio cansado, na pricisança di relaxa. Tem coisa mio pra isso qui pescá?
_ Tem não! Respondeu Juca impaciente.
_ Pois intão. Peguei meus trem di pescaria i vim.
_ E as pedrinhas? Insistiu Juca.
_ A questã é a seguinte. Deu um trabalhão botá a linha na vara, dispois o anzór na linha, dispois a minhoca no anzór. Sem conta o trabaião qui deu cata as minhoca. Se não juga as pedrinhas pra modi espanta os peixe, os mardito vem e come as minhas isca tudinhas.
_ Ué, i num é pra ce? Diz Juca bestando.
_ Craro qui não! Fala Honorato com ar indignado.
_ i a cansera qui vai da tira o bruto do anzor, iscá tudo di novo, já pensô!
Juca e Zé Bento ficaram se olhando.
_ Afinar, vim pesca pra modi di discansa e não mi cansa pra modi pesca!
Falando isso, arriou a aba do chapéu sobre os óio, tornou a colocar o fiapo di paia no canto da boca, e tatendo o chão até catar mais uma pedrinha, atirou na água espantando um bitelão que rondava seu anzol.
_ Sai pra lá, fio duma égua!

Ricco Paes