06/05/2013

Rua Gavião Peixoto 177

Era um portão de ferro
Que se abria para um longo corredor
Que se espremia, entre a casa da senhoria
E um canteiro de Avencas
Depois, de um lado, uma cerca de zinco
Do outro, o muro da Dona Laís
No final, minha casa
No fundo, um quintal
Campo de batalha, de ferozes guerras de mamona
E também, nosso campo de futebol
No fundo do quintal, tinha um muro
Depois do muro, uma mulatinha
De peitinhos pequenos, e bundinha macia
Depois de muitos anos morando lá
Nos mudamos...Mudamos...Mudamos...
Foram muitos os endereços
Mas não sei por que, não lembro de nenhum
Hoje não há mais o portão de ferro
Nem as avencas, a cerca de zinco
Não mais a casa e o quintal
Nem a menina depois do muro
Não tem mais nem o endereço
Rua Gavião Peixoto 177
Justamente o único que não esqueço


Ricco Paes
2013


Seu Corrêa



Seu Corrêa é que estava certo
Projeto de vida...Pra que?
A vida acaba.
Não projetava nada...Vivia.
E pra viver precisava de muito pouco.
Uma “Quina petróleo” no cabelo
Um perfume “Lancaster”, argentino legítimo.
O sapato de cromo alemão, bem escovado.
E uns poucos trocados no bolso.
E lá ia ele buscar a vida depois do portão.
Seu Corrêa nasceu pra viver...Somente viver.
Construir, guardar...Nem pensar.
Amanhã podia não acordar.
A rotina do trabalho não era pra ele
Optou por ser funcionário público
Ironicamente lotado no Ministério do Trabalho
Eventualmente aparecia pra assinar o ponto
Gostava mesmo era de fazer “bico”
Nada que tomasse muito tempo
E rendesse um trocado.
Gostava de fazer amizades
De uma conversa fiada
De uma boa piada
Torcedor do Fluminense
Tricolor de carteirinha
E assim ele vivia
Um dia a cada dia

Ricco Paes
2013