26/08/2006

GARÇA

GARÇA


Quando Lisbete apareceu com o Rubio em casa, a primeira impressão.
da família, não foi das melhores.
_ Parece uma garça! Pensou o pai da moça.
_ Parece uma garça! Pensou a mãe também.
Filha única, Lisbete teve uma criação esmerada, estudara nos melhores
Colégios. Cursos de inglês, piano e tudo mais que fosse necessário para que seu
futuro fosse perfeito.
_ Como será um futuro perfeito, ao lado de uma garça? Murmura o pai, no
ouvido da mulher.
_ O que você disse?
_ Nada, tava pensando alto!
No final da noite, depois de uma longa despedida do casal de pombinhos,
e de varias passadas do pai pela sala de pijama, o garça bateu asas.
Os pais resolveram juntos, não criar caso com o namoro. Sabe como é,
se for contra, aí é que eles fazem. Melhor deixar passar o tempo, logo, logo enjoa.
_ Bom dia pai, bom dia mãe! Diz Lisbete sentando a mesa, pro café da manhã.
_ O que acharam do Rubio, não é uma gracinha?
O pai até pensou em dizer que o achou parecido com a tal ave. Mas optou
por morder um biscoito com geléia.
_ Parece ser bonzinho! Disse a mãe sem muito entusiasmo.
_ O que ele faz na vida? Pergunta o pai, se servindo de outro biscoito.
_ Faz Direito, no interior!
_ Ué, o que ele ta fazendo aqui no meio da semana?
_ Sei lá!
_ Hummm! Murmura o pai.
_ O que foi, pai?
­_ A geléia ta uma delícia! Diz o pai, mudando o assunto.
As visitas do Rubio foram ficando cada vez mais freqüentes, agora toda
noite tava o cara no sofá, de beijinhos com Lisbete. O pai já tinha decido acabar com a farra, com a concordância da mulher. E foram os dois pra sala, a fim de dar
um basta no namoro dos dois.
_ Pai, mãe, que bom que vocês chegaram. O Rubio quer falar com vocês!
_ Eu também quero falar com vocês!
_ Pode falar, sogrão!
_Eu lá sou sogro de uma ave, seu bosta! Pensou o pai com seus botões.
_ Fala você primeiro o Rubio.
_ O Rubio quer convidar vocês pra conhecer a fazenda da família em Goiás.
Os dois se sentaram ao mesmo tempo, rezando mentalmente pra que o belo rapaz, não tivesse percebido a irritação deles.
_ Fazenda da família? Diz o pai, com voz suave.
_ Em Goiás? Diz a mãe, tentando disfarçar um sorriso.
_ A família tem umas terras, por lá. Diz Rubio, percebendo o interesse dos
futuros sogros.
Daquele momento em diante, o cara foi tratado como um príncipe. Observando melhor, até tinha um certo porte. Aquela cor pálida, o nariz, o pescoço. Tinha alguma coisa de Lorde Inglês. E não havia uma noite, que não tivesse um lanchinho com biscoitos. Até a geléia do pai entrou na dança, sem que houvesse reclamações. Nas despedidas do casal, nada de atravessar a sala de pijama.
Da volta de Goiás até o noivado foi um pulo. Do noivado ao casamento outro pulo. A decoração da Igreja, um primor. O buffet de primeira. A lua de mel
em Campos de Jordão, um sonho.
_ Vamos ter que rebolar pra pagar tudo isso! Diz o pai, entre dentes, pra mulher.
_ Mas vai valer a pena! Responde a mãe, também entre dentes.

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A fazenda era do irmão do Rubio, que também era dono de uma pequena indústria que acabou falindo. A fazenda dançou. O sonho dos pais de Lisbete dançou junto.
O apartamento ficou pequeno, com a chegada dos netos. Nunca mais a soneca da tarde, o telejornal, a geléia, ah! A geléia!
E já faz bastante tempo que não o chamam mais pelo nome.
_ Ô Garça, o almoço ta na mesa.



Ricco Paes